As histórias que remetem à criação do
Dia Internacional da Mulher alimentam o imaginário de que a data teria surgido
a partir de um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911, quando
cerca de 130 operárias morreram carbonizadas. Sem dúvida, o incidente ocorrido
em 25 de março daquele ano marcou a trajetória das lutas feministas ao longo do
século 20, mas os eventos que levaram à criação da data são bem anteriores a
este acontecimento.
Desde o final do século 19,
organizações femininas oriundas de movimentos operários protestavam em vários
países da Europa e nos Estados Unidos. As jornadas de trabalho de
aproximadamente 15 horas diárias e os salários medíocres introduzidos pela
Revolução Industrial levaram as mulheres a greves para reivindicar melhores
condições de trabalho e o fim do trabalho infantil, comum nas fábricas durante
o período.
O primeiro Dia Nacional da Mulher foi
celebrado em maio de 1908 nos Estados Unidos, quando cerca de 1500 mulheres
aderiram a uma manifestação em prol da igualdade econômica e política no país.
No ano seguinte, o Partido Socialista dos EUA oficializou a data como sendo 28
de fevereiro, com um protesto que reuniu mais de 3 mil pessoas no centro de
Nova York e culminou, em novembro de 1909, em uma longa greve têxtil que fechou
quase 500 fábricas americanas.
Em 1910, durante a II Conferência
Internacional de Mulheres Socialistas na Dinamarca, uma resolução para a
criação de uma data anual para a celebração dos direitos da mulher foi aprovada
por mais de cem representantes de 17 países. O objetivo era honrar as lutas
femininas e, assim, obter suporte para instituir o sufrágio universal em
diversas nações.
Com a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918) eclodiram ainda mais protestos em todo o mundo. Mas foi em 8 de
março de 1917 (23 de fevereiro no calendário Juliano, adotado pela Rússia até
então), quando aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar
Nicolau II, as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na
guerra - em um protesto conhecido como "Pão e Paz" - que a data
consagrou-se, embora tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher,
apenas em 1921.
Somente mais de 20 anos depois, em
1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo
internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres. Nos
anos 1960, o movimento feminista ganhou corpo, em 1975 comemorou-se
oficialmente o Ano Internacional da Mulher e em 1977 o "8 de março"
foi reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas.
"O 8 de março deve ser visto
como momento de mobilização para a conquista de direitos e para discutir as
discriminações e violências morais, físicas e sexuais ainda sofridas pelas
mulheres, impedindo que retrocessos ameacem o que já foi alcançado em diversos
países", explica a professora Maria Célia Orlato Selem, mestre em Estudos
Feministas pela Universidade de Brasília e doutoranda em História Cultural pela
Universidade de Campinas (Unicamp).

No Brasil, as movimentações em prol
dos direitos da mulher surgiram em meio aos grupos anarquistas do início do
século 20, que buscavam, assim como nos demais países, melhores condições de
trabalho e qualidade de vida. A luta feminina ganhou força com o movimento das
sufragistas, nas décadas de 1920 e 30, que conseguiram o direito ao voto em
1932, na Constituição promulgada por Getúlio Vargas. A partir dos anos 1970
emergiram no país organizações que passaram a incluir na pauta das discussões a
igualdade entre os gêneros, a sexualidade e a saúde da mulher. Em 1982, o
feminismo passou a manter um diálogo importante com o Estado, com a criação do
Conselho Estadual da Condição Feminina em São Paulo, e em 1985, com o
aparecimento da primeira Delegacia Especializada da Mulher.
Fonte: Revista escola