O Monumento ao Renascimento Africano, com 50 metros de
altura, domina o horizonte da capital senegalesa de Dacar. Seu tamanho é mesmo
de tirar o fôlego: novos monumentos deste tamanho são raros e esta é a maior
estátua na África. No entanto, apesar de ser anunciada como uma celebração do
renascimento do continente, tornou-se um escândalo na república africana
economicamente angustiada.
O Monumento ao Renascimento Africano foi projetado por Pierre
Goudiaby e custou cerca de 40 milhões de dólares. Está situado na ponta mais
ocidental do continente e, esperava-se, seria o monumento mais imediatamente
reconhecível de África, uma espécie de Cristo Redentor para o novo milênio.
Infelizmente para o cérebro por trás dessa loucura colossal,
o octogenário presidente Abdoulaye Wade -que perdeu a eleição em 2010, quando
fez uma proposta para um terceiro mandato-, a estátua ofendeu uma grande parte
da população do país.
Os moradores que vivem em torno do gigante estão sofrendo com
a crise econômica. Os cortes de energia são frequentes, os preços dos alimentos
estão subindo e alcançam os valores mais altos de todos os tempos e inundações
regulares deixam um grande número de pessoas desabrigadas. Em vez de uma
celebração de seu longo caminho para a liberdade, a estátua parece incitar um
sentimento de fracasso e perda diariamente. Talvez uma familiaridade prolongada
faça com que a simpatia suplante o desprezo que muitos sentem pelo monumento
agora.
Para piorar a situação, uma grande proporção dos senegaleses
são muçulmanos -94% para ser exato-. Apesar dos locais não serem extremamente
radicais em termos religiosos -como era de se esperar- a mulher esculpida com
um seio nu e exposto junto a seu companheiro sem camisa não são apreciados por
muitos.
40 milhões pode nem parecer muito dinheiro, mas para o
desvalorizado franco CFA (254 : 1 real) é uma verdadeira fortuna que poderia
ter resolvido um grande número de problemas. No entanto, para muitos, a maior
ironia é que um símbolo de independência e liberdade da opressão foi construída
por estrangeiros (coreanos).
Fonte: Mdig